Hoje eu senti um cheiro que me lembrou infância. Inúmeras vezes que eu acompanhava minha mãe ao centro da cidade, passávamos na casa de uma tia dela que era viúva e não tinha filhos; a casa tinha um cheiro característico e que eu não consigo colocar em palavras, e hoje eu senti esse mesmo cheiro passando na frente de uma casa. Em algumas dessas visitas para resolver “coisas de adultos”, nós éramos convidadas a entrar e tomar café da tarde; todas as coisas eram simples: o copo de requeijão, o achocolatado de qualidade duvidosa, um pão caseiro (não feito em casa) e manteiga, os mofos nas paredes e a mesa posta na tentativa de ser o mais agradável possível; eu me deliciava com aquilo, não me preocupava com o luxo ou com o que estávamos fazendo ali, eu somente curtia o momento.
Como é interessante a capacidade de armazenamento do nosso cérebro, pequenos gestos, cheiros, sabores, um toque... como tudo isso cria uma sinapse e um caminho neural que guarda esses detalhes para que em um momento que tanto precisamos, nós consigamos acessá-los com um gatilho qualquer. Pensando nessas memórias e de como nosso cérebro funciona, eu gostaria de convidar vocês a refletirem comigo quais as lembranças que vocês têm de uma época que vocês não pensam tanto no dia-a-dia, aquilo que aconteceu de bom ou de ruim. O convite aqui não é reviver o passado, mas de acolhe-lo e entende-lo; como você vê esses momentos nos dias de hoje? Qual a afetividade que você tem por eles? Como eles te influenciaram na formação de quem você é? E além disso, quais as memórias que você está criando para você e para os que estão a sua volta e lhe são caros? O tempo que você está passando nesse planeta, é um tempo de qualidade para você?
Dentro do processo da psicoterapia questões feitas pelo
psicólogo, a fim de conhecer melhor o paciente e de trazer à tona assuntos que
ajudarão no entendimento dos sintomas e da queixa principal, perpassam por
algumas dessas reflexões que trouxe aqui; as perguntas não são feitas todas de
uma única vez, porque se vocês praticarem e estarem abertos a pensarem
realmente sobre elas, perceberão que são densas, demandam certa energia mental,
psicológica e emocional. Você pode encontrar resistência ao acessar algumas
memórias e se sentir confuso nas que dizem respeito ao agora e ao seu plano de
vida, mas elas nos fazem perceber qual o caminho queremos seguir e nos força a
sairmos do modo automático em que vivemos.
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